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Uma vida. Meio século de história.

Estou na chamada idade madura, entrando para a melhor idade, passando por uma mudança de vida. Muitas coisas estão mudando e não são apenas as rugas no rosto. Passar pelos 50 anos de idade é uma transição biológica e psicológica e exige um pouco de paciência.

É claro, preciso agradecer por ter chegado até aqui; muitas mulheres não conseguiram. Muitas morreram antes de chegar aos 30 em procedimentos estéticos¹; outras assassinadas². Mas, graças a Deus, eu venci minhas lutas! Em mais de meio século de existência, quantas coisas vivi, quantas coisas eu vi. Renderia uma coleção de livros.

Nasci na metade da década de 60, depois do golpe militar de 1964 que derrubou o presidente João Goulart. Época de sucesso dos Beatles, do primeiro robô soviético na lua. Martin Luther King Jr., de quem sou fã pela biografia, vivia o auge de sua história e era assassinado. Meu primeiro irmão (o único entre três mulheres) nasceu e ganhou o nome do pai. E o Help, o novo mascote da família, deixava o canil da polícia militar para morar com a gente, na nova casa que meu pai comprou com dinheiro da loteria federal.

Alguns anos depois, já no interior de São Paulo, a década de 70 trazia suas cores e músicas através da televisão colorida que papai comprou para assistir a Copa de Futebol. Todavia, eu me divertia mesmo era com os desenhos animados que passavam à tarde na telinha. Depois de jogar bets na rua, queimada, amarelinha, ou correr atrás do Mr. Gordon, o Porquinho-da-índia que eu adotei. E foi pela TV que o mundo chegou mais perto e as notícias se tornaram obsessão para mim. Morreu Elvis Presley. Surgiram “As Panteras” e “O Homem de 6 milhões de dólares”. E as calças bocas de sino eram o top da moda.

Nos anos 80, eu já era uma jovem comprometida com Deus. Cantava no grupo de jovens, ensinava as crianças, sonhava em fazer missões. Mesmo comedida, usei a moda da época: calças de cintura alta, babados e as famosas ombreiras. Lady Di surgia para o mundo, assim como Michael Jackson ganhava o topo das paradas. No Brasil, vimos o fim do regime militar e o povo ir às ruas no Movimento Diretas Já. Paramos para ver a queda do Muro de Berlin. Em 85, chegava à Londrina e, no mesmo ano, conhecia o meu príncipe, hoje meu companheiro de todos os dias, meu esposo Laercio. Faculdade de Jornalismo na UEL. Emprego na Televisão Cidade (repetidora do SBT) e o começo de uma caminhada como profissional da comunicação.

Instabilidade, medo, guerras, consumismo, marcaram os anos 90. O colapso da União Soviética; o fim da Guerra Fria; o genocídio na África; Guerra do Golfo. No Brasil,  o confisco de poupanças do presidente Fernando Collor, depois a implantação do Real. Assisti estupefata a notícia da clonagem da ovelha Dolly, da morte da princesa Diana, dos jovens americanos que mataram colegas na escola. E um país quase desconhecido para mim, a Irlanda, elegia a primeira mulher presidente, Mary Robinson. Perdi meu primeiro filho aos cinco meses de gestação. Em 96, a realização de um projeto de Deus, uma aventura abençoada no Japão, onde eu e meu esposo vivenciamos coisas maravilhosas por 15 anos.

Já nos 2000 e seguintes, a realização de um sonho: ser mãe. Depois, de perder mais um bebê, nasceu o lindo Daniel Kin em 2002. A calça flare voltou para o guarda-roupa. Os cabelos afros e volumosos ganharam espaço. Guerras e crises continuavam acontecendo, assim também como as descobertas incríveis na ciência, no espaço e na medicina. Atentados com aviões destruíram o World Trade Center e parte do Pentágono nos Estados Unidos. Osama bin Laden foi capturado e morto. Morreu Nelson Mandela. As notícias sobre catástrofes naturais eram cada vez mais comuns. A China superou a economia do Japão e eu pude visitar duas de suas maiores cidades em 2014. O Japão enfrentou um grande tsunami que trouxe avarias para a usina de Fukushima e, isso aconteceu poucos dias antes de voltarmos ao Brasil.

Como eu disse no início, não é possível relembrar toda uma vida. As lembranças são como retratos guardados na alma. Podemos contemplar suas imagens sempre que desejar. Contudo, aos 51 anos, não quero apenas olhar para a bagagem que trago, mas, quero me inspirar naquilo que o futuro projeta à minha frente. São como imagens refletidas no horizonte, sugerindo que ainda há sonhos que podem ser vividos, lugares para serem visitados, pessoas para serem apresentadas, ainda há sabores para serem experimentados, sentidos para serem despertados, projetos para serem realizados, notícias para serem escritas, mensagens para serem entregues.
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Ao final, fica a sensação de que  “cada dia é, por si só, uma vida” (Sêneca) e por isso mesmo precisamos vivê-lo com sabedoria. Como disse alguém: o ontem já foi, o amanhã ainda está por vir, vamos viver o dia que temos hoje. 
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¹ Levantamento feito pelo R7 mostra que ao menos uma pessoa morre por mês em cirurgias plásticas no Brasil (http://noticias.r7.com/saude/ao-menos-uma-pessoa-morre-por-mes-em-cirurgias-plasticas-no-brasil-25022013)
² Segundo Mapa da Violência Contra a Mulher, divulgado em novembro de 2015, 13 mulheres são assassinadas por dia, em média, no Brasil.

Mônica Carvalho Costa – jornalista, profissional da área de comunicação e líder cristã.
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