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Juntas somos mais nos espaços religiosos

Uma em cada três mulheres está sofrendo violência agora, enquanto você lê este artigo. Muitas delas, estão enfrentando o abuso dentro de suas próprias casas. Sofrendo, quase sempre caladas, com a violência emocional, psicológica, sexual, patrimonial e, claro a física que em muitos casos acaba em morte. O aumento do feminicídio é uma realidade que não podemos mais ignorar.

O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de crime contra a mulher. Só no início de 2019 o país enfrentou uma onda de feminicídios , com mais de 100 casos em um único mês. Infelizmente, também é uma realidade em Londrina, minha cidade atual. Segundo dados da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, já foram seis casos e duas tentativas somente de janeiro a agosto deste ano.

Juntas Somos Mais

Apesar disso, Londrina conta com uma rede de enfrentamento contra a violência doméstica e, a Secretaria da Mulher promove um projeto de conscientização constante sobre a questão. Profissionais e voluntários se juntam com o propósito de unir forças no combate e prevenção ao crime contra as mulheres, realizando atividades comunitárias que tragam esclarecimentos e promovam o acolhimento de mulheres em situação de violência. Neste ano, a Secretaria lançou a campanha “Juntas Somos Mais” que prevê, ainda, diversas ações sociais e de capacitação em prol das mulheres londrinenses no âmbito das políticas públicas municipais.

“A informação é o primeiro passo para que as mulheres possam buscar os seus direitos e possam usufruir das políticas públicas direcionadas a elas. Queremos promover o acesso à informação, conscientização e acolhimento às mulheres, em situação de perigo evidente ou não”, declarou Nadia Moura, Secretária do Município.

Nos espaços religiosos

Acreditando nessa verdade, eu me envolvi com a nova campanha lançada no dia seis de setembro no gabinete do prefeito que pretende alcançar as mulheres cristãs. Me voluntariei na elaboração do projeto “Juntas somos mais nos espaços religiosos” com o objetivo de provocar o despertamento das igrejas e instituições religiosas para essa causa. No banner que elaborei está a seguinte frase: Violência contra a mulher. Nós temos fé que essa história vai mudar!

Na redação do projeto escrevi: “Como parte importante no processo de acolhimento de mulheres que sofrem com as pressões da vida moderna, bem como mulheres que sofrem com abusos (sejam eles psicológicos, morais, sexuais e outros), a Igreja não pode fechar os olhos para uma realidade esmagadora que a cada dia nos surpreende com o aumento de mortes e torturas contra a população feminina”.

E reforcei, lembrando que o “cotidiano de vida das mulheres brasileiras é marcado pela responsabilidade, quase que exclusiva delas, com o cuidado da casa, dos filhos, idosos e doentes da família. Para uma grande parcela da população feminina esta responsabilidade implica em obstáculos na busca de sua autonomia e dificulta o seu acesso aos recursos disponíveis na cidade, inclusive às políticas públicas”. Essa mulher também frequenta a igreja e, enquanto sofre abusos, sofre com os conflitos da fé e os paradigmas da religião, assim a igreja não pode fechar os olhos nem as portas para a questão. (veja abaixo parte do meu singelo discurso no gabinete do prefeito*)

O projeto “Juntas somos mais nos espaços religiosos” oferece palestras para as mulheres, homens ou jovens, bem como a visita de profissionais qualificados para treinamento de líderes e esclarecimento das políticas públicas voltadas para as mulheres. Para marcar uma agenda nas igrejas de Londrina e cidades vizinhas, basta ligar para a Secretaria da Mulher de Londrina ((43) 3378-0113 /3378-0114) ou enviar e-mail (momais1000@gmail.com).

Para as igrejas

*Discurso proferido no dia de lançamento da Campanha Juntas somos mais nos espaços religiosos, 6 de setembro de 2019, gabinete do prefeito Marcelo Belinati, Londrina PR.

Olhamos assombrados o aumento da violência nos dias atuais. Violência contra crianças, idosos e especialmente, contra as mulheres. Quero lembrar que a práxis cristã é contra todo tipo de violência. Mas, ela também acontece no âmbito religioso.

E toda igreja que deseja ser relevante na sua comunidade não poder fechar os olhos nem as portas para esse tema. A violência contra a mulher, infelizmente, é um fato; uma epidemia que atinge mulheres de todas as idades, classe social, escolaridade e, claro, crença religiosa.

Essa mulher, que sofre ameaças, abusos e violência física, também sobre com o conflito da fé, com os paradigmas da religião e, geralmente, com uma completa ausência de direcionamento por parte de seus guias espirituais.

Como líder cristã e conselheira espiritual já enfrentei de perto a violência contra a mulher. E me dói admitir que muitas vezes a igreja não sabe lidar com isso. A violência tem muitas causas, mas, antes de tudo está ligada à uma patologia da alma, resultado de corações vazios de Deus.

Quando lemos a história do primeiro homicídio na Bíblia, percebemos como a violência invade os lares. Ali eram dois irmãos, Caim e Abel. O ciúme, a inveja, a insegurança e principalmente a falta de temor a Deus, levou um irmão a tirar a vida do outro. Assim, as estatísticas mostram que a maioria das mulheres que sofre a violência (seja ela psicológica, emocional, física, até chegar ao feminicídio), sofre nas mãos dos seus entes queridos.

Como declarou o Rev. Andrew Watson “Os líderes da fé têm o potencial de fazer parte do problema ou parte da solução.” A Igreja tem o exemplo de Cristo que dignificou a mulher, nós como líderes religiosos também temos o nosso papel a cumprir como defensores do amor ao próximo e da paz nos lares.

O projeto “juntas somos mais nos espaços religiosos” não pretende discutir doutrinas ou dogmas da religião. É um suporte aos programas de apoio que muitas igrejas já desenvolvem. É sobretudo uma campanha (somada a muitas outras) que vem trazer sensibilização, informação e ferramentas para pastores e pastoras, líderes religiosos, grupos de apoio e ministérios femininos nas igrejas. É uma oportunidade de reflexão, instrumentalização e principalmente de prevenção.

Por isso, faço um apelo para que a igreja, que é lugar de acolhimento, seja também um espaço de reflexão e combate à violência contra a mulher. Deixo meu convite, incentivando a todos os líderes religiosos de Londrina e região, que abram as portas de suas igrejas para receberem a Secretaria da Mulher, seus profissionais qualificados que trabalham com dedicação; que firmem parceria com os projetos que são desenvolvidos pelos órgãos públicos e ONGs envolvidas e, que lutem conosco por essa causa.

E às mulheres evangélicas, católicas e de tantas denominações, deixo minha palavra final: juntas somos mais e com Deus somos ainda mais fortes!

Muito obrigada!

Monica Carvalho Costa (jornalista, teóloga e líder cristã)

 

 

Mônica Carvalho Costa – jornalista, profissional da área de comunicação e líder cristã.
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