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As palavras evoluem

Quem nunca teve dificuldades na hora de escrever o português que atire a primeira pedra. As dúvidas são inevitáveis e aumentam mais, por conta da reforma ortográfica.

Nem sempre o bom português está na ponta da língua e a dificuldade aumenta quando transferimos as palavras para o papel. Basta um simples teste nas ruas para verificar que a maioria das pessoas se confunde com as regras gramaticais do idioma. Trocam letras, esquecem acentos, não conjugam verbos adequadamente e erram a grafia de muitas palavras da língua portuguesa.

A culpa pode estar na complexidade da língua, na má alfabetização dos alunos ou no pouco hábito de leitura do brasileiro. Mas, quem nunca teve dificuldades na hora de escrever o português que atire a primeira pedra. As dúvidas são inevitáveis e devem aumentar ainda mais, por conta da reforma ortográfica que prevê a unificação da língua portuguesa nos países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

Mesmo com as duas formas de escrita (a atual e a nova) caminhando juntas por algum tempo, é certo que estudantes, professores, escritores e até jornalistas precisam ficar mais atentos à gramática na hora de redigirem seus textos. Softwares com corretores automáticos e dicionários com edições antigas estarão desatualizados a partir do ano que vem.

Assim, se não quiseram errar, todos terão que aprender as novas regrinhas que mudarão menos de 0,5% das palavras brasileiras e pouco mais de 1,5% das palavras em Portugal, segundo estudos. Para as escolas brasileiras a lição de casa é mais complicada. O Ministério de Educação (MEC) determinou que todos os livros didáticos sejam atualizados até 2010.

As palavras também evoluem

Pergunte quem sentirá falta dos dois pontinhos sobre o U que estão com seus dias contados. Como gente, assim as palavras também evoluem.
O que seria de um poeta sem as palavras ou das palavras sem um escritor? Ou o que seria da humanidade sem a escrita, que desde os tempos da caverna, tenta revelar a história através de traços e caracteres que formam idéias? Ah, e o que será da palavra idéia quando ela deixar de ser acentuada por força da reforma ortográfica? Mesmo perdendo o acento agudo, com certeza não perderá a força nem o significado.

A força da palavra sempre esteve além dos signos verbais, é atemporal, mutante e renovadora. Muitas vezes as mudanças na escrita ocorrem porque na língua falada e no cotidiano das pessoas já era comum. Pergunte quem sentirá falta dos dois pontinhos sobre o U que estão com seus dias contados. Como gente, assim as palavras também evoluem.

“A língua que falamos atualmente, não foi sempre assim. Sofreu modificações ao longo do tempo. Como todo o organismo vivo, ela nasceu, cresceu e, se não quiser morrer, tem de continuar a adaptar-se aos novos tempos e a modificar-se com eles”, analisa Maria de Fátima do Nascimento Dias, 44, professora e escritora portuguesa com vários livros de contos publicados. Graduada em Línguas e Literaturas Modernas, com três pós-graduações no Ensino do Português como Língua Estrangeira, Comunicação e Expressão e em Ciências Documentais, ela defende que as diferenças da língua entre Brasil e Portugal enriquecem o idioma. “Ao contrário de alguns defensores da língua portuguesa, eu julgo que ela não precisa ser defendida. Ela defende-se a si própria. Repare que o português que se fala hoje em Portugal, é consequência da evolução da língua popular falada na parte ocidental da península. E vai continuar assim”, diz.

De acordo com a escritora, tentar prender a língua a normas rígidas não ajuda na expansão do idioma, como o inglês que sendo flexível viajou o mundo afora. “O latim era uma língua complicada e tão difícil que morreu. O que eu detestaria é ver morrer uma língua”, comenta a professora e acrescenta: “Quando as mudanças são impostas, sinceramente, não acredito que perdurem. Toda transição tem de ser feita com muita boa vontade e de forma natural”.

  • Parte integrante da matéria de Monica Carvalho Costa publicada na revista Look / Japão em 2009
Mônica Carvalho Costa – jornalista, profissional da área de comunicação e líder cristã.
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