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Suicídio, vamos falar sobre isso?

Ele era um homem alegre, prestativo e desapegado das coisas materiais. Quando soube que eu havia passado na universidade (e naquela época a UEL ainda tinha mensalidade), fez logo um cheque para pagar algumas parcelas. Mas, um dia, a notícia caiu como uma bomba sobre as nossas cabeças e ecoou nas ondas do rádio. O Gil Gomes noticiou. Ele suicidou-se, pulou de um dos últimos andares de um hospital em São Paulo antes mesmo de se confirmar a temida doença, interrompendo a sua vida antes de completar 40 anos e deixando a esposa filhas pequenas.

Só quando alguém tão próximo de nós passa por algo assim é que de fato sentimos o peso da palavra suicídio. Ninguém podia falar sobre isso. A família queria esconder, mas, o jornalismo sensacionalista fazia questão de estampar. Ninguém sabia lidar com a tragédia. O mesmo aconteceu com a família do meu esposo, que contabiliza dois suicídios. Na geração de japoneses, que tentaram a vida no Brasil depois da guerra, dois deles não suportaram as diferenças, as pressões, e se calaram com uma corda no pescoço.

Uma triste realidade

Tendo morado 15 anos no Japão, eu lidei com pessoas que tomaram remédios, cortaram os pulsos ou usaram drogas em altas doses na tentativa de por fim a vida. Uma delas, uma adolescente nipo-brasileira, passou por três tentativas, mas, graças a Deus nenhuma teve êxito. Nesse país, que lida com o maior índice de suicídios do planeta, não dá para fingir que o problema não existe.

A preocupação no Japão cresce nesta época porque as mortes suicidas aumentam em setembro. O governo divulgou dados que apontam um pico nos suicídios no retorno às aulas do segundo semestre. Leia sobre isso na matéria em português publicada pela BBC aqui. Os números também mostram que em 2014, houve registros de suicídios entre crianças com menos de 18 anos, assim como aconteceu com foi a filha do Massao, um amigo brasileiro que mora na ilha.

Como lidamos com isso?

No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 32 pessoas se suicidam por dia, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros do que doenças como o câncer e AIDS. Apesar disso, o assunto ainda é um tabu. Muitas famílias, com a minha até aquele momento, não sabem como lidar com isso. Como contar aos filhos sobre o pai/mãe que se suicidou? Difícil mesmo! Há alguns anos, meu filho me pediu conselho sobre o que falar ao seu melhor amigo que perdeu o pai nessa situação. A mãe havia escondido a verdade dele por um tempo (foi um tiro na cabeça), e quando ele soube, completamente atordoado, veio desabafar com meu filho.

Falar sobre isso é a melhor solução.  Precisamos compreender que as pessoas passam por crises (emocionais, psicológicas) e precisam de ajuda. A depressão é uma realidade, a ansiedade, o sentimento de fracasso, o estresse (e agora, a pandemia) também são gatilhos. É necessário falar do que sentem, buscar o apoio dos amigos, abrir o coração para a família. Não se venc犀利士
e esta luta sozinho. Por isso, em alguns casos é melhor procurar ajuda profissional.

Iniciativas que iluminam

Por que setembro amarelo? A origem da data é atribuída a morte de um jovem nos EUA. Mike tinha 17 anos quando desistiu de viver. Então, no seu velório, colocaram uma cesta com cartões decorados com fitas amarelas que traziam a seguinte mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”. A iniciativa foi o início para um movimento importante de prevenção ao suicídio. Uma tentativa de lidar com a tragédia de uma maneira positiva.

Atualmente, o dia10 de setembro é marcado como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP realiza uma série de atividades para marcar o Setembro Amarelo, campanhas de prevenção e debates sobre esse “preocupante problema de saúde pública” como publicou.

Em 2019,  a Lei, conhecida como “Vovó Rose”, instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, visando promover a saúde mental das pessoas. Agora em 2021, entre os dias 20 e 30 de setembro, o MMFDH vai promover a Semana de Valorização da Vida, por meio de lives transmitidas nos canais @mdhbrasil. Será uma boa oportunidade de para aprender mais sobre o tema.

Aproveite também esta dica: a cartilha “Suicídio: Informando para Prevenir”, feita em parceria com o CFM a ABP, e que você pode baixar aqui ➳ http://bit.ly/1DFRfAz .

Vamos falar sobre isso, sim! Orar. Oferecer ajuda e lutar pela Vida!


Mônica Carvalho Costa – jornalista, profissional da área de comunicação e líder cristã.

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